Buraco negro de Reissner-Nordström

Um buraco negro de Reissner-Nordstrøm é um buraco negro estático, com simetria esférica e com carga elétrica, o qual é definido por dois parâmetros: a massa M e a carga elétrica Q. Sua solução foi obtida, de forma independente, em 1916 e 1918 pelo matemático Hans Reissner e pelo físico teórico Gunnar Nordström às equações de campo da relatividade em torno de um objeto massivo eletricamente carregado e carente de momento angular.[1]

Descrição geométrica

Ver artigo principal: Métrica de Reissner-Nordström

O buraco negro de Reissner-Nordstrøm é uma região isotrópica que é delimitada por duas superfícies assim definíveis: uma externa chamada horizonte de eventos, e outro interno chamado horizonte de Cauchy. Estes espaços formam uma esfera perfeita, devido à carência de momento angular, em cujo centro se encontra uma singularidade espaço-temporal simples, em diferença ao caso mais geral de um buraco negro de Kerr-Newman que pode apresentar singularidades na forma de anel.

A fórmula que determina a distância desta com respeito ao respectivas horizontes depende unicamente da massa e a carga do buraco, em unidades do sistema internacional:

r = r ± = G c 2 ( M ± M 2 Q 2 4 π ϵ 0 c 2 ) {\displaystyle r=r_{\pm }={\frac {G}{c^{2}}}\left(M\pm {\sqrt {M^{2}-{\frac {Q^{2}}{4\pi \epsilon _{0}c^{2}}}}}\right)} [1]

Onde r é a distância de cada horizonte, M é a massa, Q é a carga elétrica e o signo determina o horizonte em questão, sendo o valor positivo ( r + ) {\displaystyle (r_{+})} para o horizonte externo e o negativo ( r ) {\displaystyle (r_{-})} para o horizonte de Cauchy.

Relação ao parâmetro de carga Q e a massa M

Os valores que tomam a carga elétrica e a massa são muito importantes na anatomia de um buraco negro de Reissner-Nordstrøm, devido a que é sua relação a que determina o limite concreto entre seus horizontes. Existem basicamente trâs relações:

  • M > | Q / 2 c π ϵ 0 | {\displaystyle M>|Q/2c{\sqrt {\pi \epsilon _{0}}}|} ou, como é usual, | Q / 2 π ϵ 0 c 2 | << M {\displaystyle |Q/2{\sqrt {\pi \epsilon _{0}}}c^{2}|<<M} : se parece muito ao caso do buraco negro de Schwarzschild mas com dois horizontes a uma distância razoável um do outro.
  • M = | Q / 2 c π ϵ 0 | {\displaystyle M=|Q/2c{\sqrt {\pi \epsilon _{0}}}|} : para este caso os horizontes se fundem, formando um horizonte contínuo que rodeia à singularidade.
  • M < | Q / 2 c π ϵ 0 | {\displaystyle M<|Q/2c{\sqrt {\pi \epsilon _{0}}}|} : se supõe que este caso não existe na natureza, devido a que não é comum que a carga elétrica total, dividida pelo fator do denominador, supere a massa total de um corpo, pois com isto os horizontes se anulam deixando visível a singularidade.

Além disso, existe a chamada hipótese da censura cósmica, proposta pelo matemático Roger Penrose em 1965, que não permite a existência de singularidades nuas no universo.

Trajetórias de partículas

Uma forma de estudar as caracerísticas desse espaço-tempo é analisando as geodésicas e as trajetórias de partículas carregadas em sua vizinhança.[1] Neste caso, não só a gravidade contribui para o encurvamento das trajetórias como também a força de Lorentz, cuja natureza atrativa ou repulsiva dependerá do sinal das cargas do buraco negro e da partícula-teste. As partículas carregadas interagem gravitacional e eletricamente com o buraco negro carregado.

A dinâmica das partículas-teste nesse espaço-tempo pode ser derivada da seguinte lagrangiana:

L = m g α β d x α d λ d x β d λ + q A σ d x σ d λ , {\displaystyle L=-m{\sqrt {g_{\alpha \beta }{\frac {dx^{\alpha }}{d\lambda }}{\frac {dx^{\beta }}{d\lambda }}}}+qA_{\sigma }{\frac {dx^{\sigma }}{d\lambda }},}

onde m {\displaystyle m} e q {\displaystyle q} são a massa e a carga da partícula-teste, A σ = ( Q / r , 0 , 0 , 0 ) {\displaystyle A_{\sigma }=(Q/r,0,0,0)} é o potencial vetor e λ {\displaystyle \lambda } é um parâmetro afim.

As quantidades conservadas ao longo do movimento são dadas por:

p t = f ( r ) t ˙ + q Q m r E m , {\displaystyle p_{t}=f(r){\dot {t}}+{\frac {qQ}{mr}}\equiv {\frac {E}{m}},}

p ϕ = r 2 sin 2 θ ϕ ˙ l m . {\displaystyle p_{\phi }=-r^{2}\sin ^{2}\theta {\dot {\phi }}\equiv -{\frac {l}{m}}.}

As trajetórias são trajetórias planares de forma que pode-se restringir ao plano equatorial ( θ = π / 2 ) {\displaystyle (\theta =\pi /2)} . A equação de movimento geral é então dada por:

r ˙ 2 + f ( r ) ( ϵ + l 2 m 2 r 2 ) = ( E m q Q m r ) 2 , {\displaystyle {\dot {r}}^{2}+f(r)\left(\epsilon +{\frac {l^{2}}{m^{2}r^{2}}}\right)=\left({\frac {E}{m}}-{\frac {qQ}{mr}}\right)^{2},}

onde ϵ {\displaystyle \epsilon } = 0 , 1 {\displaystyle =0,1} para trajetórias nulas ou tipo-tempo, respectivamente. Na figura, é mostrado um exemplo de órbita ligada de uma partícula carregada com carga de mesmo sinal da do buraco negro.

Órbita ligada não circular de uma partícula-teste positiva no entorno de um buraco negro de RN com carga Q = 0 , 8 M {\displaystyle Q=0,8M} . Os círculos centrais expressam os horizontes de eventos r + = 1 , 6 M {\displaystyle r_{+}=1,6M} e Cauchy r = 0 , 4 M . {\displaystyle r_{-}=0,4M.}

Desenvolvimentos

São identificadas as características a serem observáveis de tais corpos celestes e calculados seus possíveis espectros pela busca de uma quantização de tal fenômeno,[2] assim como o uso de técnicas Hamiltonianas.[3]

Teorizações sobre o processo de tunelamento de uma partícula próxima a um horizonte de buraco negro e sua relação com a radiação Hawking, com considerações de que se tal partícula com momento angular tunela pelo horizonte de eventos de um buraco negro de Reissner-Nordstrom, este buraco negro se transformaria num buraco negro de Kerr-Newman.[4]

Trata-se também do comportamento de férmions carregados, sua dispersão, por buracos negros de Reissner-Nordström fortemente magnéticos.[5]

Bibliografia

  • Misner, C. W.; Thorne, K. S.; and Wheeler, J. A. Gravitation. San Francisco, CA: W. H. Freeman, pp. 840–841 and 878, 1973.
  • Nordström, G. "On the Energy of the Gravitational Field in Einstein's Theory." Proc. Kon. Ned. Akad. Wet. 20, 1238-1245, 1918.
  • Reissner, H. "Über die Eigengravitation des elektrischen Feldes nach Einsteinschen Theorie." Ann. Phys. 59, 106-120, 1916.
  • Shapiro, S. L. and Teukolsky, S. A. Black Holes, White Dwarfs, and Neutron Stars: The Physics of Compact Objects. New York: Wiley, p. 357, 1983.

Referências

  1. a b Brito, João P. B.; Bernar, Rafael P.; Benone, Carolina L.; Crispino, Luís C. B. (15 de junho de 2020). «Movimento de partículas-teste no espaço-tempo de Reissner-Nordström». Revista Brasileira de Ensino de Física. ISSN 1806-1117. doi:10.1590/1806-9126-RBEF-2020-0015. Consultado em 27 de abril de 2022 
  2. Peter Breitenlohner, Dieter Maison; Quantization of the Reissner-Nordström Black Hole (1998) - citeseer.ist.psu.edu (em inglês)
  3. C. Dappiaggi, S. Raschi; Spectroscopy of an AdS Reissner-Nordstrom black hole; Int.J.Mod.Phys. D15 (2006) 439 - arxiv.org (em inglês)
  4. Liu, Wenbiao; Quantum tunneling makes a Reissner-Nordstrom black hole turn into a Kerr-Newman black hole under angular momentum conservation; Astrophysics and Space Science, Volume 310, Numbers 1-2, July 2007 , pp. 81-84(4) - www.ingentaconnect.com (em inglês)
  5. STROMINGER A., TRIVEDI S. P.; Information consumption by Reissner-Nordström black holes; Physical review. D. Particles and fields 1993, vol. 48, no12, pp. 5778-5783; ISSN 0556-2821 - cat.inist.fr (em inglês)

Ligações externas

  • «Charged Black Holes: The Reissner-Nordström Geometry - casa.colorado.edu» (em inglês) 
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