Método de Frobenius

Em matemática, o método de Frobenius, referente a Ferdinand Georg Frobenius, é uma maneira de encontrar uma solução em série infinita de uma equação diferencial ordinária de segunda ordem da forma

z 2 u + p ( z ) z u + q ( z ) u = 0 {\displaystyle z^{2}u''+p(z)zu'+q(z)u=0}

sendo

u d u d z {\displaystyle u'\equiv {{du} \over {dz}}}   e   u d 2 u d z 2 {\displaystyle u''\equiv {{d^{2}u} \over {dz^{2}}}}

nas vizinhanças do ponto singular regular z = 0 {\displaystyle z=0} . Dividindo a expressão por z 2 {\displaystyle z^{2}} , obtém-se a seguinte equação diferencial:

u + p ( z ) z u + q ( z ) z 2 u = 0 {\displaystyle u''+{p(z) \over z}u'+{q(z) \over z^{2}}u=0}

que não será solúvel pelo método das séries de potências se p(z)/z ou q(z)/z2 não forem analítica em z = 0. O método de Frobenius permite criar uma solução em série de potências para tal equação diferencial, contanto que p(z) e q(z) sejam analíticas em 0 ou, sendo analíticas em outro intervalo, contanto que os limites de p e q existam em z = 0 (e sejam finitos).

Explicação

O método de Frobenius afirma que existe um solução da forma:

u ( z ) = k = 0 A k z k + r {\displaystyle u(z)=\sum _{k=0}^{\infty }A_{k}z^{k+r}}

Diferenciando em relação a z {\displaystyle z}

u ( z ) = k = 0 ( k + r ) A k z k + r 1 {\displaystyle u'(z)=\sum _{k=0}^{\infty }(k+r)A_{k}z^{k+r-1}}
u ( z ) = k = 0 ( k + r 1 ) ( k + r ) A k z k + r 2 {\displaystyle u''(z)=\sum _{k=0}^{\infty }(k+r-1)(k+r)A_{k}z^{k+r-2}}

Substituindo na equação (1):

0 = z 2 u + p ( z ) z u + q ( z ) u = z 2 k = 0 ( k + r 1 ) ( k + r ) A k z k + r 2 + z p ( z ) k = 0 ( k + r ) A k z k + r 1 + q ( z ) k = 0 A k z k + r = k = 0 [ ( k + r 1 ) ( k + r ) A k z k + r ] + p ( z ) k = 0 [ ( k + r ) A k z k + r ] + q ( z ) k = 0 [ A k z k + r ] = k = 0 ( [ ( k + r 1 ) ( k + r ) A k z k + r ] + p ( z ) [ ( k + r ) A k z k + r ] + q ( z ) [ A k z k + r ] ) = k = 0 [ ( k + r 1 ) ( k + r ) + p ( z ) ( k + r ) + q ( z ) ] A k z k + r 0 = ( r ( r 1 ) + p ( z ) r + q ( z ) ) A 0 z r + k = 1 ( ( k + r 1 ) ( k + r ) + p ( z ) ( k + r ) + q ( z ) ) A k z k + r {\displaystyle {\begin{aligned}0&=z^{2}u''+p(z)zu'+q(z)u\\&=z^{2}\sum _{k=0}^{\infty }(k+r-1)(k+r)A_{k}z^{k+r-2}+zp(z)\sum _{k=0}^{\infty }(k+r)A_{k}z^{k+r-1}+q(z)\sum _{k=0}^{\infty }A_{k}z^{k+r}\\&=\sum _{k=0}^{\infty }[(k+r-1)(k+r)A_{k}z^{k+r}]+p(z)\sum _{k=0}^{\infty }[(k+r)A_{k}z^{k+r}]+q(z)\sum _{k=0}^{\infty }[A_{k}z^{k+r}]\\&=\sum _{k=0}^{\infty }([(k+r-1)(k+r)A_{k}z^{k+r}]+p(z)[(k+r)A_{k}z^{k+r}]+q(z)[A_{k}z^{k+r}])\\&=\sum _{k=0}^{\infty }[(k+r-1)(k+r)+p(z)(k+r)+q(z)]A_{k}z^{k+r}\\0&=(r(r-1)+p(z)r+q(z))A_{0}z^{r}+\sum _{k=1}^{\infty }((k+r-1)(k+r)+p(z)(k+r)+q(z))A_{k}z^{k+r}\end{aligned}}}

A expressão r ( r 1 ) + p ( 0 ) r + q ( 0 ) =: I ( r ) {\displaystyle r\left(r-1\right)+p(0)r+q(0)=:I(r)} é conhecido como polinômio indicial, que é quadrático em r . {\displaystyle r.}

Usando isto, a expressão geral do coeficiente z k + r {\displaystyle z^{k+r}} é dada por:

I ( k + r ) A k + j = 0 k 1 ( ( j + r ) p ( k j ) + q ( k j ) ) A j {\displaystyle I(k+r)A_{k}+\sum _{j=0}^{k-1}((j+r)p(k-j)+q(k-j))A_{j}}
Estes coeficientes devem se anular, uma vez que a equção deve ser satisfeita:
I ( k + r ) A k + j = 0 k 1 ( ( j + r ) p ( k j ) + q ( k j ) ) A j = 0 {\displaystyle I(k+r)A_{k}+\sum _{j=0}^{k-1}((j+r)p(k-j)+q(k-j))A_{j}=0}
j = 0 k 1 ( ( j + r ) p ( k j ) + q ( k j ) ) A j = I ( k + r ) A k {\displaystyle \sum _{j=0}^{k-1}((j+r)p(k-j)+q(k-j))A_{j}=-I(k+r)A_{k}}
1 I ( k + r ) j = 0 k 1 ( ( j + r ) p ( k j ) + q ( k j ) ) A j = A k {\displaystyle {1 \over -I(k+r)}\sum _{j=0}^{k-1}((j+r)p(k-j)+q(k-j))A_{j}=A_{k}}
A série formada pelos Ak acima,
U r ( z ) = k = 0 A k z k + r {\displaystyle U_{r}(z)=\sum _{k=0}^{\infty }A_{k}z^{k+r}}
satisfaz
z 2 U r ( z ) + p ( z ) z U r ( z ) + q ( z ) U r ( z ) = I ( r ) z r {\displaystyle z^{2}U_{r}(z)''+p(z)zU_{r}(z)'+q(z)U_{r}(z)=I(r)z^{r}}
Se r {\displaystyle r} é uma raiz do polinômio indicial, então podemos construir uma solução para a equação. Se a diferença entre as raízes do polinômio indicial não é um número inteiro, então podem-se construir duas solução linearmente independentes para (1).

Pontos singulares regulares

Os pontos singulares da equação diferencial

P ( x ) y + Q ( x ) y + R ( x ) y = 0 {\displaystyle P(x)y''+Q(x)y'+R(x)y=0}

são os pontos x 0 {\displaystyle x_{0}} onde

P ( x 0 ) = 0 {\displaystyle P(x_{0})=0}

Se os seguintes limites existem[1]:

A = lim x x 0 x Q ( x ) P ( x ) B = lim x x 0 x 2 R ( x ) P ( x ) {\displaystyle {A=\lim _{x\rightarrow x_{0}}{\frac {xQ(x)}{P(x)}}\qquad B=\lim _{x\rightarrow x_{0}}{\frac {x^{2}R(x)}{P(x)}}}}

diz-se que o ponto x 0 {\displaystyle x_{0}} é um ponto singular regular.

Se x = 0 {\displaystyle x=0} for um ponto singular regular, existirá pelo menos uma solução da forma

y ( x ) = x r f ( x ) = n = 0 a n x n + r {\displaystyle y(x)=x^{r}f(x)=\sum _{n=0}^{\infty }a_{n}x^{n+r}}

A função f ( x ) {\displaystyle f(x)} é analítica em x = 0 {\displaystyle x=0} e podemos admitir, sem perder nenhuma generalidade, que f ( 0 ) {\displaystyle f(0)} é diferente de zero (se f ( 0 ) {\displaystyle f(0)} for nula, fatoriza-se x , {\displaystyle x,} e redefinem-se r {\displaystyle r} e f {\displaystyle f} ficando f ( 0 ) {\displaystyle f(0)} diferente de zero). [1]

Isso implica que a constante a 0 {\displaystyle a_{0}} seja também diferente zero:

a 0 = lim x 0 y x r = f ( 0 ) 0 {\displaystyle a_{0}=\lim _{x\rightarrow 0}{\frac {y}{x^{r}}}=f(0)\neq 0}

As derivadas y {\displaystyle y'} e y {\displaystyle y''} são

y = n = 0 ( n + r ) a n x n + r 1 y = n = 0 ( n + r ) ( n + r 1 ) a n x n + r 2 {\displaystyle {\begin{aligned}&y'=\sum _{n=0}^{\infty }(n+r)a_{n}x^{n+r-1}\\&y''=\sum _{n=0}^{\infty }(n+r)(n+r-1)a_{n}x^{n+r-2}\end{aligned}}}

Para calcular o valor do índice r {\displaystyle r} primeiro observamos que

lim x 0 x 1 r y = r a 0 lim x 0 x 2 r y = r ( r 1 ) a 0 {\displaystyle {\begin{aligned}\lim _{x\rightarrow 0}x^{1-r}y'&=&ra_{0}\\\lim _{x\rightarrow 0}x^{2-r}y''&=&r(r-1)a_{0}\end{aligned}}}

a seguir multiplicamos a equação diferencial por x 2 r {\displaystyle x^{2-r}} e dividimos por P

x 2 r y + x Q P x 1 r y + x 2 R P x r y = 0 {\displaystyle x^{2-r}y''+{\frac {xQ}{P}}x^{1-r}y'+{\frac {x^{2}R}{P}}x^{-r}y=0}

No limite x = 0 {\displaystyle x=0} e usando as constantes A {\displaystyle A} e B {\displaystyle B} definidas acima

Das equações obtemos:

[ r ( r 1 ) + A r + B ] a 0 = 0 {\displaystyle [r(r-1)+Ar+B]a_{0}=0}

Como a 0 {\displaystyle a_{0}} é diferente de zero, r {\displaystyle r} deverá ser solução da chamada equação indicial:

r ( r 1 ) + A r + B = 0 {\displaystyle r(r-1)+Ar+B=0}

Para cada raiz real r {\displaystyle r} da equação indicial substituímos as séries para y , {\displaystyle y,} y {\displaystyle y'} e y {\displaystyle y''} na equação diferencial e procedemos da mesma forma que no método das séries, para calcular os coeficientes a n . {\displaystyle a_{n}.} [1]

Cada raiz conduz a uma solução; se as duas soluções forem diferentes, a solução geral será a combinação linear das duas.

Solução em séries em pontos singulares

Em geral, cada raiz da equação indicial pode conduzir a uma solução em séries de potências. No entanto, em alguns casos é possível encontrar apenas uma solução. O teorema que se segue indica como determinar a solução geral por meio de séries de potências.

teorema Frobenius

Se r 1 {\displaystyle r_{1}} e r 2 {\displaystyle r_{2}} são duas raízes da equação indicial (em x = 0 {\displaystyle x=0} ) de uma equação diferencial linear de segunda ordem com ponto singular em x = 0 , {\displaystyle x=0,} existem três casos, a depender dos valores de r 1 {\displaystyle r_{1}} e r 2 : {\displaystyle r_{2}:}


  • Se r 1 r 2 {\displaystyle r_{1}-r_{2}} for diferente de zero e diferente de um número inteiro,

cada raiz conduz a uma solução diferente.


  • Se r 1 = r 2 , {\displaystyle r_{1}=r_{2},} é possível obter uma única solução y 1 {\displaystyle y_{1}} a partir do

método de Frobenius. A segunda solução terá a forma:

y 2 ( x ) = n = 0 b n x n + r 1 + y 1 ln   x {\displaystyle y_{2}(x)=\sum _{n=0}^{\infty }b_{n}x^{n+r_{1}}+y_{1}\ln \ x}

onde a sucessão b n {\displaystyle b_{n}} deverá ser obtida por substituição de y 2 {\displaystyle y_{2}} na equação diferencial.[1]

  • Se r 1 r 2 {\displaystyle r_{1}-r_{2}} for um número inteiro, existirá uma solução y 1 {\displaystyle y_{1}} com a

forma usada no método de Frobenius. A segunda solução será:

y 2 ( x ) = n = 0 b n x n + r 2 + c y 1 ln   x {\displaystyle y_{2}(x)=\sum _{n=0}^{\infty }b_{n}x^{n+r_{2}}+cy_{1}\ln \ x}

onde c {\displaystyle c} é uma constante.[1]

Nos casos em que c = 0 , {\displaystyle c=0,} a segunda solução tem também a forma do método de Frobenius, o qual implica que aplicando o método de Frobenius é possível encontrar as duas soluções y 1 {\displaystyle y_{1}} e y 2 {\displaystyle y_{2}} linearmente independentes.

Quando c {\displaystyle c} não é nula, o método de Frobenius permite encontrar apenas uma solução e a segunda solução deverá ser encontrada por substituição da forma geral de y 2 {\displaystyle y_{2}} na equação diferencial.[1]

Com as duas soluções encontradas seguindo o método indicado pelo teorema de Frobenius, a solução geral será:

y ( x ) = C 1 y 1 ( x ) + C 2 y 2 ( x ) {\displaystyle y(x)=C_{1}y_{1}(x)+C_{2}y_{2}(x)}

Em alguns casos as condições fronteira exigem que y {\displaystyle y} seja finita na origem o qual implica C 2 = 0 , {\displaystyle C_{2}=0,} se r 2 < 0 {\displaystyle r_{2}<0} ou r 2 = r 1 , {\displaystyle r_{2}=r_{1},} já que nos dois casos a segunda solução é divergente na origem.[1]

Se r 1 r 2 {\displaystyle r_{1}-r_{2}} é um inteiro e o método de Frobenius conduz a uma única solução y 1 , {\displaystyle y_{1},} C 2 {\displaystyle C_{2}} será também nula e não será preciso calcular y 2 . {\displaystyle y_{2}.}

Referências

  1. a b c d e f g Villate, Jaime E. (2011). Equações Diferenciais e Equações de Diferenças (PDF). Porto: [s.n.] 120 páginas. Consultado em 13 de julho de 2013 
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