Vassoura-de-bruxa

Cogumelo de Moniliophtora perniciosa, o fungo que provoca a doença.

O termo vassoura-de-bruxa é aplicado a um tipo de doença ou sintoma de doença de plantas em que ocorre um desenvolvimento anormal do tecido meristemático ou superbrotamento. Embora a vassoura-de-bruxa ocorra em muitas espécies de plantas de famílias diferentes e possa ser causado por diversos tipos de patógenos (vírus, fitoplasmas ou fungos), a mais conhecida dentre elas é a que afeta o cacaueiro. A vassoura-de-bruxa do cacaueiro é uma doença dos cacaueiros causada por um fungo basidiomiceto Moniliophtora perniciosa Stahel Aime & Phillips-Mora. É uma das doenças de maior impacto econômico nos países produtores de cacau da América do Sul e das ilhas do Caribe. M. perniciosa ataca as regiões meristemáticas do cacaueiro, principalmente frutos, brotos e almofadas florais, ocasionando queda acentuada na produção, provocando o desenvolvimento anormal, seguido de morte, das partes infectadas.

Sintomas da doença

Os sintomas da vassoura de bruxa no cacaueiro apresentam-se em ramos novos, frutos e botões florais, eles podem ser caracterizados, pelo superbrotamento de lançamentos foliares, pela proliferação de gemas laterais, engrossamento de  tecidos em crescimento, principalmente os meristemáticos. As "Vassouras", apresentam formas e tamanhos variáveis, desse modo, podem atingir o dobro ou o triplo do diâmetro, tamanho e o volume de folhas,  comparado às características de um ramo normal. Em situações onde há infecções mais severas, pode se observar a necrose e morte da gema, sem que haja a produção de "Vassouras" (KIMATI et al., 1997, DE OLIVEIRA et al., 2005).[1][2]

No começo, as vassouras têm uma coloração verde e se tornam marrons quando se origina a necrose dos tecidos. Nos frutos os sintomas são variáveis devido ao tipo de infecção, se ocorrer a manifestação dessa doença nas flores, dará pequenos frutos róseos, deformados, denominados de morangos, que com o desenvolvimento da infecção se mumificam. Nos frutos já desenvolvidos a doença causa lesões escuras, deformações que são firmes ao tato e pode ocorrer o amarelecimento precoce. Na maioria das vezes os danos causados internamente no fruto apresentam-se de forma avançada, já com crescimento do micélio (KIMATI et al., 1997, DE OLIVEIRA et al., 2005).[1][2]

Nas mudas, ao apresentar a infecção nas gemas apicais, o fungo induz a propagação de brotações laterais e que pode provocar outras deformações com uma ou mais vassouras, surgindo das axilas das folhas, observa-se também a formação de cancro, tanto nas mudas como nos ramos, que pode causar necrose, fendilhamento na casca e produção de novas vassouras, abaixo e acima da região de infecção. E com o avanço da doença, nota-se a necrose e a seca das vassouras verdes (DE OLIVEIRA et al., 2005).[2]

Ciclo da doença

M. perniciosa é um fungo hemibiotrófico (ataca células vivas, porém pode se desenvolver e reproduzir após a morte dos tecidos atacados[3]), com dois tipos de micélio: o biotrófico (parasítico) e o necrotrófico (saprotrófico). O ciclo de vida do fungo começa quando os basidiósporos germinam sobre a cutícula e a base dos tricomas da planta. A penetração pode ser pelo estômato, tecidos lesados ou pela penetração direta sem que haja a formação de apressórios. Estes tubos germinativos penetram unicamente em tecidos meristemáticos formando um micélio uninuclear e haplóide que invade os espaços intercelulares do tecido com hifas relativamente grossas (5-20 um), irregulares, monocarióticas e com ausência de grampos de conexão.[4]

A infecção pelo fungo provoca superbrotações resultantes da perda de dominância apical, as quais formam ramos anormais conhecidos como vassouras verdes, assim como anomalias nos frutos e almofadas florais. Foi demonstrado em estudos citológicos que a dicariotização ocorre em hifas monocarióticas derivadas de um único basidiósporo uninucleado, evidenciando a natureza homotálica (autofértil) de M. perniciosa. O crescimento de M. perniciosa dicariotizado dá origem a um micélio de fase secundária (saprotrófico), no qual as hifas são mais finas e apresentam grampos de conexão. Nesta fase, M. perniciosa causa necrose, apodrecimento e morte dos tecidos afetados da planta, formando assim as vassouras secas. Unicamente nesta fase da vida do fungo, e após um período de seca aparecem os basidiomas, os quais produzem numerosos esporos que disseminam cada vez mais a doença. As condições climáticas do Estado da Bahia, com períodos intermitentes de seca e umidade, favorecem a produção de esporos durante o ano todo

Impactos econômicos

Atualmente, a doença constitui o maior problema fitopatológico do estado da Bahia e, talvez, do Brasil. A doença é originária da bacia amazônica e só foi detectada no sul da Bahia (Microrregião de Ilhéus-Itabuna) em 1989. De 1991 para 2000 o Brasil teve sua produção anual reduzida de 320,5 mil toneladas para 191,1 mil toneladas, caindo a sua participação no mercado internacional de 14,8% para 4%. Esse quadro, associado aos baixos preços do produto praticados no momento da introdução da doença, tem fragilizado consideravelmente a situação socioeconômica e o equilíbrio ecológico das regiões produtoras do cacau no país, onde cerca de 2,5 milhões de pessoas dependem dessa atividade [5]. Este problema atinge o Brasil como um todo ao afetar toda a cadeia produtiva de cacau. Devido à drástica redução na produção de cacau, o Brasil hoje deve importar este produto para assim suprir sua demanda interna, incrementando os custos de produção de chocolate e aumentando os riscos de ingresso de outras doenças.

Devido à grande importância econômica da vassoura-de-bruxa, numerosos esforços têm sido envidados na tentativa de estabelecer um plano de controle efetivo e economicamente viável para esta doença. Destas estratégias de controle, a considerada como mais promissora é o plantio de mudas resistentes à doença, prática que vem sendo largamente adotada no sul da Bahia. Porém, no Equador demonstrou-se que variedades resistentes podem tornar-se suscetíveis ao longo de várias gerações e um estudo recente demonstrou que a variabilidade genética de M. perniciosa na Bahia é muito baixa quando comparada àquela encontrada na região amazônica, mostrando apenas a existência de dois genótipos do patógeno na Bahia; estes resultados indicam que estes clones resistentes podem ser muito sensíveis a novas introduções do fungo provenientes da Amazônia. Além disso, o cacau apresenta problema de incompatibilidade sexual. Com a clonagem, tem sido uma observação recorrente no sul da Bahia a existência de plantas com forte floração, mas que não frutificam. Em conjunção com esse fato, muitos dos clones distribuídos não apresentam as qualidades agronômicas ideais para o plantio, tendo sido a sua seleção feita baseada apenas na resistência à doença.

Com esse objetivo foi lançado um programa do de sequenciação do genoma da vassoura-de-bruxa[6]. Este programa visa coordenar um conjunto de pesquisas de diferentes áreas, como biologia celular, morfologia, bioquímica, fisiologia vegetal e genética molecular, tendo os diversos pesquisadores envolvidos o apoio de um banco de dados de sequências genômicas e de cDNA do fungo.[4] O programa tem também um forte viés pragmático, visando primariamente a utilização do conhecimento para intervir no problema.

Referências

  1. a b Kimati, Hiroshi (1997). Manual De Fitopatologia Volume 2: Doenças das Plantas Cultivadas. São Paulo: Ceres. p. 171. 173 páginas 
  2. a b c Oliveira, Marival Lopes (2005). Identificação e Manejo das Principais Doenças do Cacaueiro no Brasil. Ilhéus-Bahia: CEPLAC/CEPEC/SEFIT. p. 132. 17 páginas 
  3. Fitopatologia Geral - Ciclo das relações Patógeno-Hospedeiro
  4. a b FORMIGHIERI, Eduardo Fernandes Genoma de Moniliophthora perniciosa : montagem e anotação da mitocondria e desenvolvimento de sistema de anotação semi-automatico de genes. Campinas: Unicamp, 2006.
  5. Nota Técnica. Abril de 2009. Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira – 3ª e 4ª Etapas. A crise da lavoura cacaueira, condicionantes, ação governamental, análise e recomendações.
  6. Witches' Broom Project

Ligações externas

  • MARELLI, Jean-Philippe. Solanum lycopersicum as a model system to study pathogenicity mechanisms of Moniliophthora perniciosa, the causal agent of witches' broom disease of Theobroma cacao. The Pennsylvania State University. The Graduate School. Department of Plant Pathology, 2008.
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